segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Dolores


Fechou os olhos.

Descansou.

A pilha fraca, relutante, cedeu à vontade do tempo, do Livro de Deus: hoje dissemos adeus à Dolores.

Ficou Giovanna. Semente em crescimento, jóia em formação.

Giovanna ficou. Quietinha, meio sem entender o que acontecia, mas segura: no ventre da mãe, aguarda a hora para conhecer o mundo. Ainda falta um pouco, Giovanna só chegará em fevereiro. Mas, assim como sua avó, cede à vontade do Pai. E enquanto brinca conhecendo seu universo – que agora é aquele misto de si mesma e de sua mãe – ensaia o que será na vida de Anna Paula...

Foi só o abraço. Só pelo abraço estive com Anna Paula, hoje. Nada a dizer. Não há o que se diga nessa hora. Perguntei-lhe apenas se estava cuidando de Giovanna. Anna Paula me respondeu: “Ela está cuidando de mim”.

Pronto! Deus realizou Sua obra. Tão simples para Ele – o dono da Vida! – tão difícil para entendermos!...

Desde que a notícia me chegou via internet, um único pensamento: agradecer e louvar a Deus pelo ciclo planejado e desenhado. Para quem conhece Anna Paula, sabe que Dolores hoje descansa em paz, embora leve consigo uma vontadezinha de ter nos braços a Giovanna. Dolores virou estrela, verá do céu a doce menina nascer e crescer, surpreendendo a todos com a rapidez como as crianças hoje em dia se desenvolvem.

Anna Paula está pronta, embora hoje talvez se julgue ser nada. Nunca mais a mesma, decerto, mas pronta para ser a Dolores para a Anna Paulinha que vem aí.

Tudo muito confuso? Sim, muito confuso! E nesta confusão abençoada de não saber-se mãe ou filha viverão as gerações de sobrenome Franco da Silva.

Senhor, eu agradeço por todos os dias em que Dolores esteve presente na vida de sua filha. Agradeço pelos sustos, pelo medo, pelo cansaço, pela dor. Agradeço e louvo, porque tudo isso construiu a pessoa que Anna Paula é, e construirá Giovanna.

Em dezembro de 2011 trocávamos, em palavras digitadas, a angústia de perdermos Dolores. Lá eu dizia à minha amiga Anna Paula que sempre penso que todos nós nascemos com a tal “bomba-relógio”, sem saber quando é chegada a hora de estarmos nos braços de Deus. E o que parecia estar perto de acontecer há quase dois anos, aconteceu durante esta madrugada. Mas Deus tinha o Seu propósito, e nós nem sabíamos!

A mão de Deus firmou os caminhos de Anna Paula, neste tempo. Apresentou-lhe a possibilidade de ter sua própria família, de acenar uma independência que tranquilizasse sua mãe.

Afrouxado o laço para que dentro dele coubessem mais pessoas, Deus sussurrou nos ouvidos de Dolores: “Está na hora de eu te levar de volta!...”

Hoje, ao despedir-me daquela senhorinha, ousei ver um sorriso em sua face. Dolores está bem. Cumpriu sua missão na Terra. Sabe que a saudade jamais irá passar, mas sabe também que Giovanna preencherá todos os espaços do coração de Anna Paula.

E eu, que acabara de voltar para casa depois de um fim de semana em que comemorei o aniversário de setenta e quatro anos de minha mãe; depois de passar dois dias ao lado dos meus pais; depois de testemunhar, no caminho de volta, na estrada, um acidente horrível envolvendo famílias com bebês, peço a Deus que este texto Lhe chegue como oração: que minhas palavras sejam fonte de conforto à minha amiga querida. E que aprendamos com as perdas, a dar valor à vida, e aos tantos ganhos que temos com ela!


Descanse em paz, Dolores! Hoje o céu ganhou mais uma estrelinha...