quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Os Conselhos de Classe e o BBB

 
(A chegada de 2012 traz-nos muitas incertezas do que virá. Uma única coisa é certa: Vai ter BBB na televisão. Na minha opinião, BBB tem tudo a ver com a Escola e seus Conselhos de Classe. Gostaria que vocês "dessem uma espiadinha"...)

2012 vai começar... E junto com ele o Big Brother Brasil (quanto? Já perdi a conta!).
Um fato cotidiano marca o final do ano: os conselhos de classe nas escolas. Não foi diferente em 2011. Os veredictos foram lançados. Primeiro ao ar – nas conversas durante as reuniões quase sempre nada pedagógicas, depois no mural da escola. Estão lá, todos os alunos, devidamente sentenciados. Uns a chorar de alegria... outros a sofrer duras perdas...
A média pode ser qualquer uma, o importante é estar nela. Se a média foi 5,0 e você conseguiu os 5,0, parabéns! Mas se o máximo que conseguiu foi alcançar um 4,9... Triste de você. Já ouvi professor (este eu faço questão de escrever com minúscula, mesmo) dizer: “esse um décimo é a minha arma!...”
Há também os relatórios descritivos, que dispensam fórmulas matemáticas. Ufa! Você pensa que melhorou, então? Qual o quê! Certa vez li num relatório descritivo acerca de um aluno que tinha um irmão gêmeo: “Joãozinho, gêmeo com um colega de classe...”
O Big Brother Brasil fará sucesso, ganhará audiência maior a cada dia enquanto nossos conselhos de classe forem esse protótipo da brincadeira de “berlinda” da qual participávamos quando crianças. É só dela que me lembro quando estou presente em um deles. Professores (com a maiúscula só por conta do ponto final) rotulando alunos, sem qualquer argumento pedagógico para reprová-los e – não sei se é ainda pior! – aprová-los. Os alunos passam de ano porque driblaram bem os professores. Passam porque são bonzinhos, porque nada falam nas aulas, porque conseguem chegar ao 5,0 sabe Deus como. E são reprovados (a maioria dos professores diz que o aluno mesmo se reprova...) porque são dispersos, arrogantes, bagunceiros, insuportáveis, cínicos, debochados e não querem nada. Não querem nada... Você é Professor? Quantas vezes já ouviu, especialmente em dias de conselho de classe, esta expressão?
E o Big (e bota Big nisso!) Brother Brasil vai multiplicando por aí a necessidade quase vital de se saber sobre tudo o que há de mais fútil da vida alheia...
Toda vez que assisto a um conselho de classe volto ao tempo e penso que um dia estive lá, na berlinda, sendo avaliada (?) pelos meus professores. E dou graças a Deus por ter sido uma aluna obediente e educada. Isto bastou, eu não precisava saber sobre os conteúdos das disciplinas. Há alguns anos uma amiga conseguiu terminar o Ensino Médio graças a uma gincana: ela recolheu não sei quantas mil latinhas de refrigerante, amassou, entregou na escola e ganhou muitos pontos. E ainda pôde escolher em que matéria computá-los!!! Foi a primeira aluna da classe!
Imagino as palavras sobre ela no dia do CoC: “Ah, que menina excelente! A escola ganhou um computador novo só por causa das latinhas que ela catou.” Antigamente “catar lata” era uma expressão pejorativa. Agora, aprova alunos ao final do ano. E tem também o caso do menino que já quase reprovado, participou do desfile cívico da cidade: passou de ano.
Talvez o problema do conselho de classe, principalmente deste do final do ano, seja porque ele acontece no final do ano. Estão todos muitos nervosos, mil diários para preencher, as compras do Natal, o presente do amigo-oculto, a sogra que vai chegar para as Festas, o décimo terceiro que irá pagar o IPVA atrasado... Ansiosos até por saberem quem estará no BBB do ano que vem.
Sei que os CoCs de 2011 já aconteceram e eu não posso fazer mais nada por eles, mas queria desabafar a minha insatisfação. Reuniões pedagógicas não podem ser dissociadas de conselhos de classe. A formalidade do Conselho – cuja obrigatoriedade legal da existência nem existe! – tem que estar amarrada a todas as discussões que se faz ao longo do ano no espaço escolar, e essas discussões devem objetivar o sucesso do aluno, e não o contrário. Ninguém tem que saber, no dia do conselho, que Mariazinha sofreu abuso sexual e, por isso, aprová-la. Eu já (ou)vi isso, também: “Ah, mas se é assim, então eu aprovo...”
A escola tem que estar à disposição do aluno. Nós, PROFESSORES, somos prestadores de um serviço que, se não me falha a memória está na Lei, deve ser de QUALIDADE. Ou será que nossos concursados e contratados desconhecem este Artigo? Quantos sabem o que realmente estão fazendo quando adentram suas salas de aula com giz e apagador nas mãos?
O que menos importa quando conseguimos depois de tanta batalha nos formar é a nota que tiramos. Alguém se lembra qual foi a média obtida em Ciências no terceiro bimestre da 7ª série? Tenha sido 5,0 ou 10,0 estamos aí, na VIDA, junto com quem tirou, à época, menos ou mais que a gente. Acorda, escola!
Se a Escola que hoje estamos construindo não se desfizer desses vícios que a tornam um arremedo de escola, o Big Brother Brasil jamais acabará.
Ou alguém aí já se esqueceu de que os números são infinitos?

5 comentários:

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  2. Eis o comentário de um amigão, que não pôde postar e pediu-me para fazê-lo:

    NÃO É NADA BIG, MEU BROTHER

    - Pobre Brasil!
    Essa expressão, que me escapa com frequência, tem escandalizado amigos meus, alguns professores na ativa, outros, como eu, aposentados.
    Mas você não vê a pujança do país, nossa economia estabilizada, o desenvolvimento a pleno vapor, um grande contingente de brasileiros que saiu da miséria? – indagam bons e bem intencionados amigos.
    Seria eu cego, extremamente obtuso ou um obstinado opositor pela oposição, se não visse os avanços, sob muitos aspectos, em relação ao país que já fomos no passado. Mas, creio que minha expressão infelizmente cabe como uma luva neste país real em que vivemos hoje, no limiar de 2012.
    E nada mais ilustra, sintética e contundentemente nossa estagnação, senão nosso retrocesso, que o tal Big Brother. Esse programa – uma coisa lamentável, que nem comentário mereceria – é paradigmático de nosso atraso cultural, a começar pelo fato de que se trata de mais um pacote de lixo importado, como muitos outros já houve, mas sem tanto sucesso.
    Um bando de jovens (alguns nem tanto) emparedados, balbuciando coisas ininteligíveis, agressões à inteligência mais modesta; peitos, traseiros, esfregações, vinte e quatro horas por dia; mais peitos, traseiros e esfregações; mentiras, enganações, falsidades, tentativas de vencer a qualquer custo; gente se apossando de gente, ou se oferecendo para a posse, todos no afã de atingir o objetivo: a grana do prêmio.
    Corrupção, traições, alianças espúrias, caras-de-pau eméritas, apadrinhamentos, trocas de favores, roubalheira travestida de “projeto social”, busca da notoriedade e do poder... Ué, estarei eu falando agora da política no Brasil, ou ainda falo do Big Brother? O paralelo, claro, é natural. Só não se mostram, ainda, os peitos, traseiros e esfregações, a não ser, provavelmente, nas orgias pagas com nossos impostos.
    Pobre Brasil, sim. Não só o dos fundões, mas o das periferias, e mesmo da quase integralidade de estados outros que não os quatro ou cinco que reúnem as melhores condições econômicas, têm melhores índices de desenvolvimento e, enfim, possibilitam o discurso demagógico dos poderosos de plantão e o ufanismo dos desavisados ou incapazes de discernir.
    Pobre Brasil da educação falida. Isso, falida mesmo, apesar da quase totalidade das crianças na escola. Mas que escola? Que professores? Educação falida e fracassada na sua missão básica: ensinar a ler, escrever, realizar as quatro operações. Uma escola que forma analfabetos funcionais; em que a maioria dos professores não está minimamente preparada para ensinar, nem para se apaixonar pelo que faz.
    Big Brasil. Big em pobreza, em falta de esgotos, moradias e escasso mesmo em comida. Big em corrupção, em demagogia e, lamentavelmente, em alienação, sobretudo entre os jovens.
    Pobre Brasil. Sobretudo enquanto os conselhos de classe fizerem menos sucesso que o Big Brother.
    Pobre Brasil. Sobretudo enquanto houver poucas Karlas e muitos participantes de BBB`s.
    Brasil, uma país nada Big, meu brother.

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  3. Karla, o que me consola muitas vezes, é que ainda existe uma parcela de educadores (professores, gestores, equipe técnica) que acredita na qualidade do ensino e que tem a consciência de que o processo ensino e aprendizagem vai muito além da sala de aula.
    Esses educadores são os que fazem a diferença!
    Bjs, Dilcéa

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  4. Quase um ano desse seu texto e eu aqui a me deparar com ele em meio as minhas eternas angústias. Sou supervisora em uma escola e orientadora educacional em outra e as falas não mudam. Insisti esta semana com uma colega que escolhemos uma profissão que lida com material humano sim, não pode ter precisão matemática sempre, lida com o emocional também. Mas é preciso ponderar os dois. Analisar a aprendizagem real diante do que DE FATO foi ensinado. Muito fácil culpar a criança que não quer nada, a família que nada quer, o sistema que joga contra. Mas e nós? Professores, o que queremos? O que aprendemos? O que fizemos? O que poderíamos ter feito?

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