quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Feliz a vida toda

(Cada um de vocês é responsável pelo que sou hoje. E eu sou tão feliz!!!)


Foi preciso que eu vivesse quarenta anos (e mais alguns) para descobrir-me tão feliz a cada dia!

Aquela felicidade, a mesma de quando eu tinha tão poucos anos, quando acordava pela manhã e já planejava a brincadeira do dia, por qual delas eu iria começar. Acordar era uma alegria! Eu morava num sobrado e quando abria as velhas janelas de madeira era como se acordasse o quarteirão: aquele ranger avisava aos vizinhos que o dia ia começar no apartamento 101. Tinha o padeiro da padaria da frente, Jocilei, que corria pra calçada para acenar, e o jornaleiro da banca embaixo da minha marquise , o Sérgio “foca”, que me mostrava o álbum de figurinhas que havia chegado às bancas. Um punhado de “bom-dia” aos que atravessavam a rua (meu sobrado era de esquina) e os chamados de minha mãe para o café da manhã. Obrigada, meu Deus!

Foi triste ter que sair de lá, da “Travessa Malafaia apartamento 101”, mas meus pais optaram por sair do aluguel. E, embora um tanto contrariada percebi, aos poucos, que seria feliz no novo endereço também. O apartamento agora térreo me permitiu conhecer melhor a rua.

Ah, a rua! Que felicidade é a rua quando se tem onze anos!!! E acordar continuou sendo muito bom pra mim, desta vez imaginando o que fazer para chamar os meninos para brincar com as meninas (a gente os detesta nesta época, mas eles são indispensáveis!). Aí, entrou na minha vida o Banco Imobiliário. Finalmente, meninos e meninas numa alegria só, com direito a brincar de salada-mista nos intervalos, embora eu, bem aconselhada pelos meus pais, servia só para vendar os olhos dos colegas. Beijar? Na boca? Nem pensar!!! E lá estava aquela mesma felicidade, minha companheira, a fazer-me esquecer da Malafaia...

E a felicidade de ir para a escola? Caminhar sozinha e passar pelo rapazinho que tinha sempre algo agradável para dizer... Ou fazer o caminho com um grupo de amigos, às gargalhadas, como se o resto do mundo não existisse. Dias felizes passei na escola! Rasgar as provas de Maria Luíza sempre que ela tirava menos de 80 – nossa aposta – ou vê-la rasgando as minhas, tudo era motivo de boas risadas.

Minha formação em Professora só me traz lembranças alegres! Os passeios no Centro de São Gonçalo após as aulas (finalmente aprendi a façanha de não ir direto pra casa quando saía mais cedo: ora, o que nos espera nesta fase senão louça para lavar?), as paquerinhas com os garotos do comércio... E as primeiras saídas no fim de semana? Ah, os ensaios da Portela no Clube Mauá!... Quem não foi feliz ao som de “Ô iá, ô iá, água de cheiro pra ioiô/vou mandar buscar na fonte do senhor”? Felicidade foi meu nome durante todo este tempo.

Meu primeiro emprego, então! E não havia pessoa mais contente que eu. Olha que sorte: consegui emprego, aos quinze anos, como auxiliar de classe de uma turma de Educação Infantil no colégio particular onde cursava o Normal e, com isto, obtive isenção da mensalidade! Que alegria foi pra mim, à época, dar esta notícia aos meus pais que já se viam preocupados por conta de pagar uma mensalidade uma vez que o Prefeito não honrara com a promessa da bolsa de estudos! Lá estava eu, feliz da vida!

Todas as minhas lembranças da época em que lecionei são maravilhosas. Sobre muitas delas já escrevi. Muitas histórias já contei. Dizer que fui feliz durante os dezesseis anos em que fui Professora é quase redundante.

Mas Deus tinha outros planos pra mim. Deus quis que eu saísse do palco (eu até escrevi um soneto sobre isto) para observá-lo mais atentamente. E Deus me tornou Inspetor Escolar. E fez mais que isso, fez com que eu viesse para Iguaba Grande e fez com que eu conhecesse Nilza Alberto, Cláudia Lacerda, Herminia Simões e Madalena. E fez com que eu aprendesse a trabalhar exatamente como elas. Certo de minha felicidade Deus me deu caminhos à frente, rumos a desvendar, histórias pra conhecer e sempre, SEMPRE, crianças pra defender. Que estada feliz em Iguaba!

Hoje sou feliz por ter feito tantos amigos! Tive que deixar minha cidade de São Gonçalo – com todas as felicidades que lá senti – para descobrir que amigo é eterno, amigo é pra sempre e, principalmente, amigo se faz a qualquer hora. Assombra-me tanto estar tão feliz por reencontrar meu amigo Anderson depois de quase trinta anos e sentir-me tão amiga dele como se o relógio e o calendário nada significassem quanto conhecer pessoas maravilhosas há tão pouco tempo e já pensar ser impossível viver sem elas!

Orgulho-me da alegria que sinto, da alegria que sou. Orgulho-me por representar alegria para as pessoas que amo de verdade. Tenho orgulho dos laços que estreitei e os fiz tão apaixonadamente que, acredito, transformaram-se em nós. Quem há de desatar?

A felicidade está aí, porque está dentro de mim. Hoje quando abro a janela do meu quarto lembro-me da Malafaia, porque as janelas do meu quarto fazem barulho também. Pra mim não é por acaso. Penso sempre que é Deus que não me deixa esquecer que a menina que planejava a brincadeira está aqui, porque a alegria é a mesma que sinto quando planejo a roupa que vou vestir antes de sair pra trabalhar. Um dos meus mais novos amigos, 
Wellington (um achado!), é o responsável pelo texto de hoje. Porque ele colocou música no meu notebook. Eu sempre precisei de música para começar a escrever. Obrigada, Wellington. Queridos – verdadeiramente – amigos, já não sei mais como parar!

Um comentário:

  1. Não vou nem comentar que gosto muito dos seus textos (oops, acho que já comentei, rs), prefiro agradecer por ter me achado! É quando encontramos amizades preciosas como a nossa que nos sentimos realmente inspirados todos os dias!

    Te adoro, K!
    :D

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