sábado, 26 de novembro de 2011

A evolução do Nada

(Estou preocupada com a forma como as coisas sem sentido têm invadido o espaço do que tem real valor pra gente.)


Quem será a nova mulher samambaia?
Meu Deus, eu nem escrevi ainda e as coisas não param: o nada evolui mais rápido a cada dia, e tenta me vencer (ou me convencer).
Estou ficando preocupada ao ver a forma como todas as coisas que valem nada tomam, aos poucos – porém não muito devagar – o lugar daquilo que custamos tanto a conquistar. Estudamos tanto entendendo que isto nos levaria a um salário melhor, e hoje quem ganha mais que a gente é quem nem precisou estudar. Nunca me esqueci da decepção que Lula já me causara quando, eleito pela primeira vez, disse no seu discurso que não tinha precisado de diploma para chegar à Presidência do Brasil. Alguém se lembra disto? Pois é, ele disse. E eu quase morri de vergonha, porque votei nele na primeira vez.
Eu cresci – e não faz tanto tempo assim, gente! – com meus pais me irrigando de valores do tipo: honra, crença, respeito, vergonha. E, na minha época, existia certa ordem para que as coisas acontecessem: estudar, namorar, casar. Mas a primeira coisa da ordem era “crescer”.
Assalta-me ver o nada crescer nas páginas da internet. E eu queria ver tanta coisa! Comprei o notebook certa de que me traria tanto conhecimento!... Mas hoje, antes que eu chegue ao destino que busco, sou obrigada a saber quantos ml de botox fulana aplicou nos lábios, com quantos anos fulano de tal perdeu a virgindade e, pior que isso, ver o que não quero ver: a menina que ontem era uma atrizinha promissora em “fotos sensuais” para a revista masculina, o atorzinho promissor em “fotos sensuais” para a revista masculina também, o esportista nu como se eu quisesse vê-lo: “aí, Karla, essa é pra você!”.
Não quero! NÃO QUERO SABER, NÃO QUERO VER NADA! Alguém me ouça!!! Nessa correria do dia a dia tem gente se esquecendo do real valor da vida, e fazendo opções por uns momentos de glória... Estão se mutilando, se transformando num único estereótipo, e depois metem o malho em Hitler. Com todos os silicones, botox, e cirurgias plásticas não estão se tornando, todas e todos, magérrimos, de peitos firmes, cabelos lisos, bunda grande e lábios carnudos? Teria sido esta a escolha de Hitler e... melhor nem pensar!
Quero entrar na net sem saber quem está solteiro a minha procura (fala sério!). Quero saber das notícias sem ter que saber quem prefere ser “pegador” a outra coisa. Eu quero que Antônio cresça sem se preocupar em saber quem será a próxima mulher samambaia... Eu só queria que o nada diminuísse sua velocidade, para eu poder passar e conhecer – em paz! – um pouquinho do tudo que me espera por trás da lente do computador.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Roseléa

(Hoje na despedida a Roseléa fiquei pensando que poderia ter sido cada um de nós...)
Ela tinha a idade da gente, quarenta e poucos anos... Estava há pouco tempo preocupada em saber como ficaria sua situação na escola no ano que vem: se dobraria ou não...
Algumas pessoas conseguiram ver seu rosto hoje, bem machucado. Eu não vi, porque estive lá com Antônio. (Bem que ele insistiu!) Mas com certeza a imagem que guardaremos dela (mesmo quem a viu hoje) é um sorriso largo e bonito, o olhar meio de lado, a expressão engraçada, quase debochada. Roseléa.
Roseléa me remete à chegada em Iguaba. E foi, por um lado, bom estar hoje lá, com ela. Lá estavam também pessoas que conheci quando aqui cheguei. É pena que o tempo deste mundo nos tome tanto que mal conseguimos estar com quem realmente gostamos. Hoje, num evento tão triste, ousamos ter a felicidade (escondidinha, disfarçadinha) de reencontrar pessoas que amamos...
Este tempo que nos toma levou Roseléa de nós. Eu ouvi um homem dizendo: "a morte é covarde". E fiquei com aquilo tilintando na cabeça. A morte é covarde? A morte é covarde?
Diante deste espetáculo trágico em que você se despede de alguém que vai "ali" ao Rio de Janeiro sem saber que este alguém não vai voltar, eu tento descobrir onde está a covardia.
Todos nascemos com o tempo previsto, eu creio. Às vezes penso que talvez seja como um cronômetro de uma bomba. E o que fazemos com esses tantos dias que Deus dá pra gente?
Quanto tempo você acha que vai viver?
Roseléa devia ter muitos planos... eu tenho muitos planos... você deve ter muitos planos também. Mas não temos o prazo para alcançá-los, não sabemos.
Não acho a morte covarde. Pensar assim, pra mim, é egoísmo. Mas acho que nós que estivemos lá nos despedindo dela hoje deveríamos abraçar a missão de viver mais do que morrer. Eu vou ao RJ sempre acompanhada de Antônio. Estrada, sono, cansaço, ansiedade, pressa... faço a oração junto com ele, Deus nos leva e nos traz de volta, mas até quando? Às vezes estou a 100 km/h e aparece um indivíduo - do nada! - a 60 km/h na minha frente. Sabe que agora eu parei de reclamar? Agora eu penso: "é Deus me alertando para o velocímetro" e sigo atrás, reduzindo a marcha. Já aconteceu com você?
Eu estou meio sem inspiração, mas queria escrever e compartilhar este pensamento, e queria que fosse hoje. Não é covarde morrer. Covarde é a vida que se escolhe levar. Abrimos mão do tempo que temos para trabalhar, trabalhar, trabalhar... Roseléa preocupada com a dobra, como Madalena ficou quando a Secretaria de Educação resolveu aumentar a carga horária. Madá morreu, quem cobrou carga horária dela? Quantas pessoas iriam usufruir da ausência de Roseléa, mesmo que compensada por uma melhor condição financeira em casa? Que valor real há nessa troca, de se deixar de viver... e morrer?
Agradeço a Deus pela vida de Roseléa, pelo tempo em que ela esteve conosco. Eu convivi pouco, mas sei que nossa amizade era sincera, demos muitas gargalhadas juntas... E agradeço, principalmente, porque sei que ela está nas mãos dEle, agora.
Covardia é passar pelo mundo e não fazer por onde estar nos braços de Deus na hora da morte. Porque quando a gente nasce - e é querido - nasce na hora que Deus quer e ninguém acha covardia ou outra coisa. É uma vida que está chegando, pra viver não se sabe quanto tempo, até ir embora. Como eu digo pra Antônio: Deus entrega as pessoas pra gente depois vem buscar. 
A saudade vai ficar por toda a vida. A tristeza, Deus haverá de consolar. Vai curando corações até a gente (e os mais próximos) lembrar dela com alegria... E daí ninguém vai achar nada covarde.
Covarde é quem persegue os outros, faz questão de ninharia, serve-se do poder para humilhar... Gasta o tempo que Deus deu para aborrecer as pessoas ao invés de conquistá-las. O tempo tá previsto pra todo mundo, e a gente só se toca disto no dia que dá adeus pra alguém.
Quero ser feliz, por Roseléa. Porque podia ser cada um de nós ali, no lugar dela, hoje. E enquanto meu dia não chega, quero fazer por onde merecer o sorriso e o acalanto de Deus. Pra quem passa por essa vida e aprende a viver, a morte não é covardia, é presente de Deus.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quanto tempo dura o "para sempre"?



Eu quero saber quanto tempo dura o "para sempre". 
Quando deitamos na cama, eu e Antônio nos abraçamos e temos o costume de propor um para o outro: "vamos ficar agarradinhos assim pra sempre?" ele sempre concorda, e eu começo a instigar:
"pra sempre, sem levantar"?
"pra sempre, sem almoçar"?
"pra sempre, sem tomar banho"? (esta ele gosta!!!)
Mas quando eu proponho "pra sempre, sem ver tv" ele se solta dos meus braços: o "pra sempre" dele acabou...
Eu disse (se não disse, pensei) para sempre algumas vezes... Para algumas coisas que cedo passaram. Fiz planos para sempre... E só agora descobri que para sempre é o que não previ: a família que construí, o amor de meus pais, a bondade de Deus comigo.
Para sempre estava naquela borboleta pousada na minha ixória enquanto esteve lá, na flor e na memória da minha digital (porque eu fotografei, mas perdi a foto!). Para sempre é o tempo que passo fazendo perguntas a Antônio enquanto estamos agarradinhos na cama. Para sempre é o amor do mendigo a Nossa Senhora, prostrado em frente à Capela, na cena inesquecível que vi estes dias em Iguaba e que não deu tempo de fotografar. Para sempre é o tempo que levamos saboreando um prato que há tempos desejávamos provar.
Eis o para sempre: o amor que construímos ao longo da vida em companhia dos amigos que fazemos pela estrada.
Deus nos dá, todo dia, um dia para que possamos transformá-lo em para sempre. Você sorriu hoje? Praticou uma boa ação? Foi verdadeiro? Cuidou de você? Se fez algo de bom, hoje é para sempre pra você e, certamente, para alguém que esteve a sua volta.